São muitos os relatos de pessoas estigmatizadas, alguns relatos e pesquisas merecem ser trazidos a tona, como este que lhes trago. No entanto, muita distorção se abate sobre o tema e com profundidade espiritual, em verdade, pouca coisa é discutida.
Certa vez, sem querer e esperar, contatei com um espírito de uma pessoa que, em vida terrena, fora um desses "estigmatizados". No final desses trechos da leitura que vos trago, resultado de minhas pesquisas sobre o assunto, colocarei para vocês o detalhe mais importante da tal conversa que, verão, confronta e bate de frente com a maior parte das teorias.
“Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente”. (João cap.XX- v.27 ).
CONCEITO:
Segundo a enciclopédia Larousse Cultural (Vol. X), “estigmas são marcas das cinco chagas da Paixão de Cristo que aparecem sobre o corpo de alguns santos estáticos (sujeitos a êxtases), geralmente seguidas de sofrimentos físicos e morais que recordam àqueles de Jesus”. A palavra é originada do grego e do latim stigma, e significa marca, sinal, ferrete (marcado a fogo), cicatriz que deixa uma chaga, que também pode ser atribuída aos estigmas da varíola.
De acordo com o Dicionário Céptico, baseado no Skeptic´s Dcictionary, publicado na web por Robert Todd Carol e traduzido por Antonio Inglês e Ronaldo Cordeiro, filiados à rede Brasileira de Racionalistas, “estigmas são feridas que surgem nas mãos e nos pés, às vezes nos flancos e cabeça, duplicando os ferimentos da crucificação de Cristo, e não devem ser confundidas com as representações de crucificação que acontecem nas Filipinas toda sexta-feira santa”. Segundo este Dicionário, “todos os mais ou menos 312 casos registrados de estigmas foram de católicos romanos, e todos, com exceção de quatro, eram mulheres”. “Não se conhece nenhum caso de estigmas anterior ao século XIII, quando Jesus Cristo crucificado se tornou um símbolo padrão do cristianismo no Ocidente”.
ESTIGMATIZADOS / FRAUDES:
O primeiro grande estigmatizado, o homem que mais se aproximou de Cristo na terra, foi São Francisco de Assis, (1182-1226). Segundo seu biógrafo, como René Fulop Miller em “Os Santos que abalaram o mundo”, São Francisco de Assis teve essas marcas por dois anos. Seus contemporâneos se referiam a “lacerações de vasos e tecidos que nunca inflamaram ou supuraram e se admiravam com o fato de que, apesar das fortes dores e perda de sangue, ele se mantivesse vivo nesses dois anos.
A partir desse fato, a Igreja passou a considerar o fenômeno como divino. O aparecimento de feridas ou cicatrizes nas mãos e nos pés de alguns santos e místicos, semelhantes às marcas recebidas por Cristo no momento da crucificação, não é um fenômeno moderno. Os Evangelhos falam das cicatrizes que apareceram no apóstolo Paulo, cuja citação encontra-se em sua epístola aos Gálatas, cap. 6 , v.17 ; “ (...) porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus”.
Sabe-se que na Idade Média e em períodos posteriores um grande número de casos de estigmatização era divulgado para infundir sentimentos religiosos nos fiéis, mas os relatos são exagerados e sem comprovação científica. O fenômeno era julgado como graça ou santidade e os milagres aumentavam a fama e enchiam os cofres dos mosteiros com donativos dos peregrinos.
Gemma Galgani, jovem italiana nascida e 1878 e que faleceu aos 25 anos de idade, foi uma estigmatizada pela Igreja. Nas suas mãos, pés e tronco, apareciam feridas profundas e sinais de flagelação, os quais segundo os cientistas eram causados espontâneamente em virtude de uma grave histeria. Apesar disso, Gemma foi beatificada em 1933 e canonizada em 1940.
Um outro exemplo registrado na história é o de Louise Lateau, camponesa belga cujos primeiros estigmas apareceram em 1868 e a partir de então escorriam gotas de sangue de suas feridas em todas as sextas-feiras.
Os estigmas de Louise foram rigorosamente observados na faculdade Belga de Medicina. Os médicos concluíram que o sangue fluía através de minúsculas escoriações triangulares da pele, as quais eram difìcilmente visíveis a olho nu. Eles afirmaram também que talvez essas lesões fossem provocadas por fatores emocionais ou psicogênicos externos, decorrentes da concentração prolongada sobre a crucificação.
O caso mais recente e possivelmente o mais interessante devido à proximidade no tempo, é o fenômeno ocorrido com o Padre Pio, capuchinho da cidade de Pietrelcina na Itália. Apresentou os estigmas nas mãos, pés, e tórax, durante um período de quase cinqüenta anos, desde 1919 até 1968.
Lorenzo Petri, contemporâneo e biógrafo do padre Pio acreditam que tais fenômenos ocorreram num momento de êxtase, num contato por assim dizer, direto com a divindade. Fala ainda que Padre Pio teve os estigmas primeiro internamente, com dores fortes, por um ano, no período de 20 de setembro de 1918 até Junho de 1919, quando foram constatados externamente.
Após dois anos de investigação, o Vaticano declarou que os estigmas eram de origem milagrosa.
Segundo o seu biógrafo, os médicos achavam estranho também que tais ulcerações fossem em lugar de pele dura como as mãos e os pés.
Em uma visão mais desconfiada, como a do Dicionário Céptico, São Francisco de Assis teria infligido ferimentos a si próprio e deveria ser considerada “a primeira fraude estigmática”, sendo seguido por centenas de outros, entre os quais, cita o Dicionário, Magdalena de La Cruz (1487-1560) da Espanha, que teria admitido a fraude quando adoeceu seriamente, e Therese Neumann da Baviera (1898-1962), que teria, conforme relatos, sobrevivido por 35 anos comendo o pão da Santa Eucaristia nas missas, todas as manhãs. Conta-se que toda Sexta-feira da Paixão ela apresentava as cicatrizes da crucificação nas partes externas das mãos e dos pés acompanhada por hemorragia ocular, mas, ao que se sabe, provocadas com a ajuda do próprio pai.
Exibido por volta do ano 2000, o filme STIGMATA tornou-se mais uma fonte de informação sobre o assunto, fazendo uma abordagem do tema, não só sob o aspecto religioso, mas também sob o aspecto racional. È encontrado nas videolocadoras.
CURIOSIDADES:
No livro “Milagres” de Scott Rogo (médico especialista em parapsicologia) são relacionados aproximadamente 312 casos de estigmatizados até o final do século XIX, considerando-se os estigmatizados sem as chagas, ou seja, aqueles que sentiram dores, mas não manifestaram as feridas. Informa também que até agora, somente uns sessenta estigmatizados foram beatificados e canonizados.
Existe na Itália uma Ordem Religiosa denominada “Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo”, popularmente conhecida como “Estigmatinos”.
Essa entidade foi fundada pelo padre Gaspar Bertoni (1777-1853) em 04 de Novembro de 1816 no local onde funcionava a “Igreja dos Estigmas”, que era assim chamada por ser dedicada às chagas ou estigmas de São Francisco de Assis.
Padre Gaspar suportou durante anos, terríveis dores e sofrimentos que o mantiveram preso ao leito grande parte de sua vida, porém sem reclamar, chamava-os de “Escola de Deus”. Padre Gaspar foi canonizado pelo Papa João Paulo II em 01 de novembro de 1989 e os milagres para o seu processo de beatificação e canonização foram realizados no Brasil, nas cidades de Rio Claro e Rio de Janeiro.
ESTIGMAS / SIGNIFICADO:
No que tange ao significado dos estigmas, destacamos alguns trechos publicados na entrevista do Padre Tito Paolo Zecca à agência Zenit de Roma em 13 de Abril de 2001. Padre Zecca é professor de Teologia Pastoral e Espiritualidade na Universidade Pontifícia do Latrão e o Ateneu Pontifício Antoniano de Roma.
Os estigmas “são um sinal do que Cristo sofreu durante a Paixão; portanto, há dados teológicos que precisam de muito mais estudo do que já foi dito até hoje. No Evangelho de João, XX, 24-29, Jesus materializa-se diante dos apóstolos e mostra os estigmas para se identificar, dizendo a São Tomé: “Põe o teu dedo no meu lado”.
Este fenômeno mostra a eficácia da salvação de Cristo na cruz, e permanece de modo especial no sinal dos estigmas, tornando-se um fato distintivo da eficácia redentora e salvadora da fé.
Em outro trecho ele afirma: “Tem havido insuficiente reflexão sobre a missão particular relacionada com os estigmas”. Concluindo, Padre Zecca diz “que os recipientes dos estigmas consideram isso uma imensa graça, da qual se sentem indignos e estas chagas que podem ser purulentas e nunca curar-se, podem ajudar a curar a outros”.
Em resumo, os estigmas representam a aceitação consciente da cruz, vivida espiritualmente.
Sob esse aspecto podemos entender o procedimento de muitos internos da colônia de Curupaiti que embora mutilados e passando por dores e sofrimentos atrozes conseguem transmitir um sentimento de fé e esperança para outrem.
ESTIGMAS / CIÊNCIA:
Se no passado a estigmatização tinha um significado religioso, atualmente, no entanto, ela é vista como um sinal de perturbação de origem psicológica, histeria, resultado da auto sugestão ou oriunda de algumas afecções da pele.
Ernesto Bozzano, no livro “Pensamento e vontade” à página 95, expõe o seguinte: “Os fenômenos de estigmatização, de modificações tróficas cutâneas por sugestão, não passam de fenômenos elementares de ideoplastia, infinitamente mais simples, posto que da mesma ordem, que os fenômenos de materialização”.
“As curas ditas miraculosas são fruto da mesma ideoplastia, orientada por sugestão ou auto-sugestão, num sentido favorável às reparações orgânicas e concentrando em tempo dado, nesse sentido, toda a potencialidade do dinamismo vital”. “Não há nenhum milagre no retorno acidental à organização humana, de ações dinâmicas e ideoplásticas, que constituem regra na base da escala animal”.
A defesa de que as chagas de Cristo apareçam por influência psicossomática ganha fôrça nos dias de hoje, em que se admite no mundo médico que muitas doenças, até mesmo o câncer, sejam induzidas pelo inconsciente.
Um desejo profundo de identificação com uma figura idealizada, como a de Cristo, poderia levar estas pessoas a apresentar tais marcas, sem que isso seja uma decisão consciente. Deste ponto de vista, as chagas não poderiam ser tratadas como fraude, mas como um distúrbio de ordem psíquica.
O Dr. Ary Lex, médico espírita, dedicou no seu livro “Do sistema nervoso à mediunidade” um capítulo intitulado – Perispírito e doenças; Estigmatizados -, no qual cita além de São Francisco de Assis, três outros casos de pessoas que apresentaram esses fenômenos : um aldeão da Sardenha (Itália) , uma freira de nome Amália em Campinas e uma senhora que, devido à sua mediunidade de cura ficou conhecida como a “Santa de Bebedouro (S.Paulo)”. Nos três casos houve sangramento em partes do corpo e lesões que cicatrizavam em curto espaço de tempo.
Quanto às relações corpo-perispírito-espírito, o Dr. Ary Lex enfatiza “que é principalmente nos períodos de maior intensidade emocional que as moléstias de origem mental, inconsciente, se tornam mais freqüentes. Esses distúrbios, inicialmente curáveis, tendem a se tornar doenças orgânicas, incuráveis. Hoje, sabe-se que 80% das úlceras do estômago são de origem emocional”.
Tudo isso que expusemos, termina o médico, nos mostra que há no ser encarnado algo muito profundo, muito poderoso, que faz surgir no corpo físico as conseqüências do psiquismo. São impulsos, dizem os psicólogos, que foram gerados no inconsciente humano. São impressões gravadas no Perispírito, diríamos nós, as quais formam o substrato da vida emocional .
REFLEXÃO:
Não é da vontade de Deus que o homem seja infeliz!
Em Jesus não há tragicidade, conforme se observa na conduta de outros líderes, de outros homens, porque ELE soube converter a desgraça em fator de elevação como lição na qual as ocorrências são sempre instrumentos do processo de crescimento para Deus, sejam sob quais formas se apresentem .
(Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda – pág. 97 – cap. “O Egoísmo” - Joanna de Ângelis)"
Voltando ao assunto do espírito com que contatei, ele foi enfático ao afirmar: " minhas feridas(estigmas) nas mãos, nos pés, no peito e na testa estavam ligadas as minhas condições cármicas. Foi uma somatização das querelas estúpidas e das crueldades que fiz e que me desmontou a consciência. A maioria das pessoas que passaram pela Terra, têm muito a ver com Jesus, mas principalmente porque fizeram parte dos complôs que o denunciaram injustamente. Fiquei sabendo, também, que esses dramas vividos resgatam essas mazelas de outrora. Que não se tratam de artifícios para perpetuar a imagem do Mestre crucificado, mas sim para lembrar o infrator e apagar de suas mentes, por compensação, a sequela traumática dos fatos pretéritos. Que não são anjos, mas pessoas de grande condição de sabedoria e evolução que, por vício ou perverção na outra passagem, ao invés de conferir fraternidade e solidariedade aos irmão acabaram por deturpá-los."
Marlon Santos