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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A Felicidade Banalizada




No primeiro caso, você está fazendo uma caminhada, inesperadamente ou consequentemente lhe dá sede. Mete a mão no bolso pega um trocado e chega em qualquer bar em qualquer bar compra uma garrafa de água e sai bebendo. Isso é uma atitude normal e, na verdade, não passa mesmo de uma atitude normal e simples que pode ser feita sem grande esforço. Pode ocorrer no entanto, que você não tenha dinheiro para comprar a água, aí você chega no primeiro bar, farmácia, loja, posto de combustível, casa de terceiro, mercado, pizzaria, açougue, enfim, e alguém vai lhe fornecer um copo de água sem custas, até, pelo contrário, com senso de obrigação de lhe dar a água, e você segue a caminhada.






No segundo caso, você está no deserto caminhando perdido, vítima de algum tipo de situação que lhe fez andar solitário e lhe fez batalhar pela vida naquela vastidão estúpida de um lugar inóspito e indelevelmente mortal e nada misericordioso. Dentro de tuas posses legais e de teus confortos, por mínimos que sejam do lugar onde habitas, agora te vê embaraçado e vulnerabilizado pela circunstância, obrigado a gerir todos os atos em acordo com a situação para poder se manter vivo e voltar a conviver com a família novamente.






Nesta caminhada forçada pelo deserto, você começa a sentir sede, pois está desidratado e precisa repor líquido, de modo que se isso não aconteça o terror e a barbárie da exposição começam a fustigar seus nervos e suas chances de vida começam a diminuir minuto a minuto. Lá pelas tantas horas de sua jornada desgraçada de sede, suor e desespero, aparece na sua frente um velho todo mal trajado e distante, por completo, das realidades de tua vida acostumada as sutilezas e as bonanças e farturas comuns da vida urbana, te mostra e te leva ao encontro de um pequeno oásis naquele deserto sepulcral. Você o segue. Chega no local e vê um pequeno poço de água, barrenta e escura. Naquele momento, o velho pega um pedaço de madeira côncava de uma palmeira de deserto e enche daquela água saturada, te alcança e tu, por força da circunstância, bebe todinha água, acha muito boa e ainda leva muita dela pra viajem. Ao final o velhote lhe ensina o caminho mais correto de retorno pra sua cidade e você sai dali num estado de êxtase de alegria e felicidade. Voltará a rever sua família, fará as suas caminhadas de rotina todos os dias, estará novamente com seus pais, filhos, sobrinhos, cônjuge, vizinhos e amigos.






Só que agora a vida espera de você o reconhecimento do aprendizado que acabou tendo no deserto. Espera que você continue feliz por um simples copo de água te ofereçam. Que você pare de reclamar do prato sujo encima da pia e considere como foi útil aquela casca de palmeira no deserto, mesmo imunda e torta. A vida quer que você dê atenção para todos agora. Que você reconheça que um pobre velhinho pode ser a salvação num momento cruel. Que qualquer ser humano tem valor, embora nem sempre, a primeira vista você consiga vislumbrar tal valor. Que você deixe de ser uma pessoa medíocre quando deixa de dar mérito para coisas pequenas, principalmente depois de ter testemunhado que até um copo de água suja pode te fazer muito feliz e até salvar tua vida.






Agora a vida quer que você pare de banalizar as coisas: pare de tornar você mesmo uma pessoa fútil, com atitudes levianas; passe a dar valor para as coisas pequenas, pois muitas vezes só não são grandes porque a situação não lhes é conveniente; contemple mais as coisas que te estão próximas, afinal o que está longe não te dá sustentação; fique mais tempo com tua família para não morrer de drama de consciência num dos desertos da vida, pois considere que nem sempre vais conseguir achar um velho guia e mesmo um copo de água suja no deserto e poderá não voltar para casa.






A felicidade para muitos no mundo é ter e conseguir só um pouquinho de atenção, para outros é tentar manipular o mundo; para outros é só um prato de comida e, para mais outros, um estoque de comida para um ano inteiro. O detalhe é que ambos precisam de muito pouco para viver, desde que aprendam que a felicidade é só um estado mental baseado na forma de darmos proporção para as coisas.






Por fim, pare de banalizar a felicidade. Como? Dando valor para as coisas pequenas, por mais que seja um copo de água suja, pois se isso passa a te fazer feliz, imagine uma conversa com um amigo, por mais amena que seja; imagine um abraço de tua mãe ou de teu pai...






Marlon Santos

3 comentários:

  1. Felicidade é irradiar luz... Não importa a grandiosidade do que fazemos, mas sim a dose de amor e boa vontade que colocamos em nossa ação. bjnhosssss

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  2. Sensacional o texto! Pena que muitas vezes só percebemos a importância de algo ou de alguém (um pouco de água, no exemplo do texto) quando não o temos disponível. Em geral, primeiro precisamos desejar algo para depois valorizarmos a saciedade (felicidade). Temos que aprender, com a falta de qualquer coisa simples que tenhamos experimentado, a imaginar o que seria se outras coisas/pessoas/circunstâncias nos faltassem, para as valorizarmos a ponto de nos sentirmos felizes por temos alguém a abraçar (como uma mãe, um pai no exemplo), um copo de água que mate a sede...

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  3. Sim!Felicidade é Viver o aqui e agora!Direcionando toda a nossa atenção aqui, sem disperdiçar sequer parte dessa energia que nos permite atingirmos um estado mental de plena alegria. Curtindo cada minuto, plantando o bem, e desejando o melhor.

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