O espíritos, embora nem sempre percebam, só fazem aquilo que suas naturezas e seus superiores permitem ou atestam. Assim, se pode entender que nada do que acontece em seus mundos são atos deliberados exclusivamente por suas vontades e quase sempre as ações estão relacionadas a um aprendizado, seja para os próprios espíritos, seja para as pessoas encarnadas.
As chamadas assombrações estão contidas nestes princípios. Pois uma aparição, de qualquer tipo e intensidade, só se demonstra com um propósito, e este propósito normalmente está ligado a vida do espírito enquanto esteve aqui na Terra e, também, se liga a vida das pessoas encarnadas que têm correspondência com o fato.
Estes espíritos acabam dotados de certas habilidades e destrezas que vão bem além de suas capacidades normais. Isso tudo é visceralmente ligado a atividade que ele está desenvolvendo e tem liberação pata tal, por incrível que pareça.
Os espíritos são seres humanos originais, aliás, mais originais que os encarnados por estarem num estado de natureza pura. Desse modo, são eles dotados de sentimentos e animações semelhantes e superiores as nossas, inclusive. A morte não os separa desses sentimentos e seus ânimos não se esvaem com o corpo físico, logo, o que muda são suas formas de agir. E eles agem...
Certa vez fui chamado para ajudar a resolver um caso de manifestação espiritual em uma casa numa cidade próxima da minha. Era uma mistura de atividades espirituais que variavam de batidas a materializações de objetos. O que mais chamava a atenção é que os moradores da casa, pai e filha, viviam ali havia vários anos, cerca de 15, e os acontecimentos se intensificavam a cada ano que passava. O detalhe é que a moça trabalhava, e ainda trabalha, numa loja de roupas e seu pai, aposentado, é que ficava em casa o dia inteiro, para fazer comida e dar conta da lida costumeira da casa. Ocorria, no entanto, que em várias vezes nos últimos tempos não podiam mais almoçar. Quando iam servir a comida encontravam dentro das panelas meias, cuecas, calcinhas, relógios, celular, lápis, chinelos (que uma vez, em razão do tamanho da panela, o chinelo teve que ser amarrado nas extremidades por um monte de fios de cabelos femininos para poder caber dentro), botões, etc.
Não suportando mais a pressão dos acontecimentos, e depois de terem procurado todos os tipos de recursos, acabaram por me achar. Não é minha atividade mediúnica, mas em razão da circunstância e da proximidade com as pessoas, para lá fui fazer 'campana' uma certa noite e um dia inteiro. Ao que parece houve uma irritação muito grande com minha presença, mas sou sabedor de que nenhum espírito suporta ficar em estado errante por muito tempo e que seu desiderato é, quas
e sempre, esclarecimento. Assim, sempre me porto com tranquilidade diante dessas coisas, consciente de que também sou um espírito e que aquele que ali está, perturbado e perturbando, é um irmão meu que precisa de alguma coisa. Foi a primeira vez que vi a chamada escrita direta. Antes um pouco das onze da manhã, caiu um caderno grande, com folhas pegas por molas, chamadas espiral, aberto com uma folha em branco e uma caneta grampeada no centro. Deixamos o caderno onde estava. Fomos os três para fora da casa para verificar um barulho. Nem bem eu tinha saído pela porta da casinha quando ouvi outro barulho em seu interior. Virei-me rapidamente para a direção do caderno que estava no chão e vi quando a caneta rolava ao lado do caderno, enquanto isso, um vulto escuro se amotinava num canto de um dos quartos. Olhei no caderno e estava escrito: "iniciais", sendo que o 's' fora escrito com tamanha força que quase atravessou três folhas de papel do caderno.
A moça, na época com mais ou menos 19 anos, chorava muito e o senhor a abraçava. Não tinha entendido bem a escrita. Mas o que foi se sucedendo esclarecia tudo. Comida no fogo. Fogão a lenha. Quando vimos caiu um sapato do dono da casa, do nada, em cima da chapa do fogão. Logo após um ursinho de pelúcia da moça voava para cima do fogão também. Depois o iliós da máquina de costura vem rolando ao nosso encontro na varanda, como se alguém tivesse fazendo dele um ioiô. Dentro da panela de pressão, que foi aberta somente para temperar o feijão, que eu ajudei a escolher e colocar água, saia uma cinta do vovô dono da casa, e dentro da panela de arroz, aberta posteriormente por curiosidade minha, tinha mergulhado um imã de altofalante, etc. Ao final da tarde, já não observava mais o vulto escuro (espírito) dentro do quarto. Quando dentro desse mesmo quarto, que era da moça, a televisão ligou 'sozinha' e desligou imediatamente, ficando marcado na tela as letras 'CF'.
A tarde caía e a moça resolveu fazer bolos fritos. Todos sentados na área externa da casinha e eu ajudando a bater a farinha com ovos e azeite dos bolos enquanto a moça achava a lata de azeite para botar os bolinhos a fritar. Quando vi aparece uma foto no meio da meleca que eu tava batendo. Era a foto de um irmão do vovosinho que estava ali, sentado ao meu lado, branco que nem a farinha, e dizendo: 'é a foto do Carlos Fernando, meu irmão que meu outro irmão matou antes de se matar'. Perguntei: Como assim? Ele disse, junto com a filha, que era uma foto do irmão que havia sido morto pelo outro irmão mais velho que eles. Que aquela foto eles não conheciam (mais tarde fiquei sabendo que a foto tinha sumido naquele mesmo dia do albúm da casa da filha do defunto da foto, o que foi comprovado pelo rasgo semelhante da comparação feita na parte de trás da foto com a página de onde ela foi tirada), e que Carlos Fernando tinha levado um tiro do próprio irmão mais velho depois de discutirem numa venda no caminho de volta para casa. Falaram que após todos acusarem o irmão mais velho, que esse se matou.
Bem, o caso termina assim: As letras C e F maiúsculas que apareceram na TV eram as iniciais do nome de Carlos Fernando e as iniciais dos objetos que apareciam no fogão e nas panelas formavam a palavra 'suicídio', ou seja, o espírito trazia a mensagem de que Carlos Fernando havia se suicidado e não que seu irmão mais velho o havia matado.
Um vez esclarecida a situação, nunca mais houve manifestação na casa. O que mais me chamou a atenção é que o senhor dono da casa, um dos que mais havia acusado o irmão pela morte do outro, foi encontrado enforcado na varanda da casinha, sendo descoberto por sua filha ao chegar em casa do trabalho. Estava escrito numa folha de caderno: "naum guentei e arresorvi me matá".
Marlon Santos