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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Médium Peixotinho

No dia 16 de junho de 1966, na cidade de Campos (RJ), deixou o corpo físico o famoso e evangelizado médium espírita Peixotinho (foto). A Federação Espírita Brasileira, o Conselho Superior da FEB e o Conselho Federativo Nacional, se fizeram representar pelos confrades Paulo Affonso de Farias, José Salomão Misrahy e Abelardo Idalgo Magalhães, respectivamente. Ao sepultamento acorreram centenas e centenas de confrades dos mais diversos pontos do País. Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho, teve ação destacada no movimento espírita brasileiro, já por suas excepcionais qualidades mediúnicas, principalmente no que tange às materializações, já pelo seu comportamento moral como homem de bem.

Peixotinho, como todos o conheceram, nasceu em 1º de fevereiro de 1905 na cidade de Pacatuba, no Estado do Ceará, filho de Miguel Peixoto Lins e Joana Alves Peixoto. Logo cedo perdeu os pais e passou a viver com os tios maternos, em Fortaleza. No Estado cearense entrou para o Seminário, pois seus tios desejavam que seguisse a carreira eclesiástica. Contudo, por questionar os dogmas da Igreja recebeu vários castigos e sofreu várias penas disciplinares.

Observando as desigualdades humanas, tanto no campo físico como no social, pois seu Espírito não aceitava as explicaçõ
es que recebia para justificar as diferenças sociais tão marcantes no Nordeste, naquela época tão mais sofredora que hoje. Também não aceitando as justificações que lhe ofereciam para o nascimento dos anormais, ficou em dúvida no tocante à paternidade e bondade de Deus. Se todos eram seus filhos, por que tantas diversidades? Por que razões insondáveis uns nascem fisicamente perfeitos e outros deformados? Uns portadores de virtudes angelicais e outros acometidos de mau caráter? Dizia então: “Se Deus existe, não é esse ser unilateral de que fala a religião católica”. Desejava saber e inquiria os seus confessores, os quais, diante das indagações arrojadas do menino, usavam o castigo e a penitência como corretivo, o que o levou a abandonar o colégio.

Aos 14 anos mudou-se para o Amazonas em busca de melhores condições de vida nos seringais. Mas dois anos depois resolveu retornar a Fortaleza, e aí, na terra de Bezerra de Menezes, eclodiu sua
faculdade mediúnica, em forma obsessiva, pois no início era envolvido pelos Espíritos sofredores que faziam dele um valentão.
Apesar do seu
físico infantil, era dono de grande força de vontade e, sabendo o que lhe poderiam fazer os obsessores, procurou reagir, não saindo de casa, isso depois de um episódio em que, após travar luta com vários homens, foi transportado para uma praia deserta e distante, fisicamente ileso. Mas os Espíritos das trevas não desanimaram ante sua disposição de não sair de casa, vindo-lhe, então, um caso de desprendimento, em que foi considerado morto, estado de que despertou após mais de 20 horas de amortalhado. A seguir adveio-lhe uma paralisia que o prostrou por seis meses, sem que a família procurasse os recursos do Espiritismo. Sendo católicos praticantes, seus familiares temiam envolver-se com o Espiritismo.

Nessa fase, um dos seus vizinhos, membro de uma sociedade espírita de Fortaleza, movido de íntima compaixão pelos seus sofrimentos, solicitou permissão à sua família para prestar-lhe socorro espiritual com passes e preces. Ninguém em sua casa tinha conhecimento do Espiritismo e seus familiares também
não atinavam com o verdadeiro estado do paciente, uma vez que o tratamento médico a que se submetia não lhe dava nenhuma esperança de restabelecimento.
O seu vizinho iniciou o tratamento com o Evangelho no Lar, aplicando-lhe passes e dando-lhe a beber água fluidificada. A fim de distrair-se, Peixotinho começou a ler alguns romances espíritas e posteriormente as obras da Codificação kardequiana. Em menos de um mês apresentou sensível melhora em seu estado físico e foi progressivamente libertando-se da falsa enfermidade. Logo que conseguiu andar, passou a freqüentar o Centro Espírita onde militava o grande tribuno Vianna de Carvalho, que na
época estava prestando serviço ao Exército nacional em Fortaleza.

A terrível obsessão foi sua
estrada de Damasco. O conhecimento da lei da reencarnação veio equacionar os velhos problemas que atormentavam a sua mente, dirimindo todas as dúvidas que o Seminário não conseguira desfazer. Passou assim a compreender a incomensurável bondade de Deus, que dá a mesma oportunidade a todos os seus filhos na caminhada rumo à redenção espiritual.
Orientado pelo major Vianna de Carvalho, Peixotinho iniciou seu desenvolvimento mediúnico. Tornou-se um dos mais famosos médiuns de materializações e efeitos físicos. Por seu intermédio produziram-se as famosas materializações luminosas e uma série dos mais peculiares fenômenos, tudo dentro da maior seriedade e nos moldes preceituados pela Doutrina Espírita.


Em 1926 mudou-se para o Rio de Janeiro, então Capital da República e se apresentou para servir no Exército, na Fortaleza de Santa Cruz. Posteriormente foi transferido para Macaé (RJ). Foi em Macaé que propriamente iniciou sua prestação de serviços ao Espiritismo, tendo aí, com um grupo de irmãos, vários dos quais já no plano espiritual, fundado o Grupo Espírita Pedro. Também em Macaé, em 1933, constituiu família, contraindo matrimônio com Benedita (Baby) Vieira Peixoto.

Sua vida militar foi intercalada de transferências, mas, para onde era transferido, fixava residência com a família e ali fundava um posto de receituário homeopata. Assim foi em Imbituba (Santa Catarina), Santos, Rio de Janeiro, Campos etc. Em 1945 foi transferido de Imbituba para a Fortaleza de São João, no Rio de Janeiro. Novamente na capital brasileira, reencontrou-se com vários amigos, dentre os quais Antônio Alves Ferreira, velho confrade do Grupo Espírita Pedro, de Macaé, o qual nessa época residia no Rio.
Das reuniões semanais na resi
dência desse confrade nasceu um culto doméstico que, em poucos meses, se transformou no Grupo Espírita André Luiz, cuja sede provisória era, então, no escritório de representações do confrade Jaques Aboab, na Rua Moncorvo Filho, 27. No Grupo Espírita André Luiz prestou seus serviços mediúnicos, no convívio amigo e fraterno dos irmãos que se uniram àquela casa. E durante esse período, enquanto residiu no Rio de Janeiro, teve a felicidade de reuni-los em sua residência, todos os domingos.
Do Rio de Janeiro foi para Santos. Isso em 1948. Em Santos freqüentou o Centro Espírita Ismênia de Jesus. Nesse mesmo ano encontrou pela primeira vez o médium Chico Xavier, na cidade de Pedro Leopoldo, onde participou de sessões de materialização e de assistênci
a aos enfermos, ocorrendo a partir daí muitos outros encontros. Grande número das sessões no Grupo André Luiz e em Pedro Leopoldo são narradas por Ranieri em “Materializações Luminosas”.

Transferido para Campos em fins de 1949, iniciou seus serviços no Grupo Espírita Joana D’Arc. Pouco depois, com o crescimento da freqüência no culto doméstico que fazia para seus familiares, nasceu o Grupo Espírita Aracy, seu guia espiritual que fora, na última encarnação, sua filha. Ao Grupo Aracy dedicou seus últimos anos de vida terrena.

Apesar de sua eficiência no receituário, foi um sofredor, portador de asma, que compreendia ser a sua provação. Apesar de todos os sofrimentos, era alegre e brincalhão, e por muitos considerado uma criança gr
ande. Como médium soube viver, sem nunca comerciar seus dotes mediúnicos. Viveu pobre e exclusivamente dos seus vencimentos de oficial da reserva do Exército, reformado que foi no posto de capitão.
Manteve sempre grande zelo pelos princípios esposados por Kardec, fazendo por onde, nos Grupos ou Centros por ele fundados, que nunca existisse intromissão de rituais ou quaisquer influências alheias à doutrina codificada por Kardec. Dedicou-se muito ao tratamento de casos de obsessão, chegando mes
mo a, por várias vezes, levar doentes ao próprio lar, onde os hospedava junto de sua família. Passou por testemunhos sérios e sofreu ingratidões que soube perdoar, não desanimando nunca de servir.

Peixotinho sofria de broncopneumonia, enfermidade que lhe causava muitos dissabores, que ele porém suportava com estoicismo, o mesmo podendo-se dizer das calúnias de que foi vítima, como são vítimas todos os médiuns sérios que se colocam a serviço do Evangelho de Jesus, dando de graça o que de g
raça recebem.

Peixotinho desencarnou às 6 horas da manhã do dia 16 de junho de 1966, em Campos, cercado do carinho da família. Cumpriu sua missão e retornou ao plano espiritual, deixando viúva a Sra. Baby Vieira Peixoto e nove filhos.
Marlon Santos

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